Eu nunca tive diário daqueles em que a maioria das meninas alimentava com palavras, desejos, vontades e embalagens de bombons. Mas descobri aos 16 anos que entre meus poemas, poesias, bilhetinhos e depois os contos, bastante censurado por mim inclusive, levavam alguns dos meus pedaços.
As palavras sempre tiveram muita importância na minha vida embora eu nunca gostasse delas soltas e por si só.
Há uns dias, quando decidi encerrar um fotolog criado por mim em 2004, consegui enxergar minha forma mais escancarada de desabafo. Me permiti ler cada linha do ontem e os comentários de tanta gente que não imagino quem seja, mas que naquele momento, eu deixei que invadisse meu castelo.
No fundo, eu queria mesmo era contar tudo. Revelar todos os meus sonhos e lembrar pelos cantos o que passou. Contar tudo o que eu pensava antes do sono ou o que não me deixava dormir.
Falha de personalidade ou não, sentir demais, ser completamente inteira e entregue ao que eu acredito, sempre foi minha especialidade. E eu acreditei demais.
Quase sempre disse tudo e joguei as minhas tranças. Tudo bem que muitas vezes de forma incógnita ou subjetiva, mas que um pouco de sensibilidade poderia desvendar. Falo do tudo que eu nunca esperei que se tornasse nada, principalmente quando me expressar, pudesse ser uma tentativa de esquecer um lado covarde, atado e incapaz.
Por algum tempo o meu castelo tinha todas as janelas fechadas e era restrito para visitação, ainda assim, me confortava trocar algumas dúzias de palavras com o papel, por vontade, sob pressão, ou simplesmente decidir que naquele momento eu não queria contar nada; só estrelas.
O tempo ensina mas como sempre vou continuar me virando do avesso, só que agora sem perder tantos grãos de mim, e, definitivamente certa de que esconder-se atrás de algo ou de alguém, não protege ninguém das dores do mundo.
Confesso que me sinto uma menina em forma de mulher ou vice-versa, mais evoluída, e tenho orgulho do que tenho me tornado, não só pra mim mesma, mas para todos aqueles que convivem comigo, embora a vida ainda tenha muito a me ensinar.
Tenho orgulho inclusive da transparência que me deixa exposta e que quer sempre todos os meus ângulos, por pior que seja.
Aprendi a fazer escolhas, e isso não quer dizer que tenha sido fácil.
Eu escolhi adentrar no meu castelo aqueles que não se consideram majestade. Escolhi partilhar a vida com quem sabe que ser majestade pode ser simples, mas que reinar não é.
Vou continuar do lado que nunca me atrevi sair e certa de que o espelho não é mágico, tão pouco reflete o que não existe, portanto, aquela voz do lado de lá, está mais perto do que imaginamos, porque está simples e claramente dentro de nós mesmos.
Hoje posso até compreender porque vários castelos desabaram como se fossem meros castelinhos de areia. Consigo ainda achar graça quando lembro das abóboras, da varinha de condão e do sapatinho que nas minhas histórias, não serviram.
No fim, eu quase nunca sou aquela de vestido rodado ou de bochecha vermelha como as pessoas vêem, contudo, em alguns minutos é possível desvendar quem eu sou...
Ainda reverencio quem bate na porta e se aproxima desarmado(a).
Eu te deixo entrar, lhe dou a palavra e te mostro o meu elo, mas certa de que somente eu, sou a dona do castelo.