sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

"Felicidade e Alegria"

Ser alegre (muito melhor do que ser feliz) é gostar de viver 
mesmo quando a vida nos castiga

CONTARDO CALLIGARIS, Folha de São Paulo

   QUANDO EU era criança ou adolescente, pensava que a felicidade só chegaria quando eu fosse adulto, ou seja, autônomo, respeitado e reconhecido pelos outros como dono exclusivo do meu nariz.

    Contrariando essa minha previsão, alguns adultos me diziam que eu precisava aproveitar bastante minha infância ou adolescência para ser feliz, pois, uma vez chegado à idade adulta, eu constataria que a vida era feita de obrigações, renúncias, decepções e duro labor.

    Por sorte, 1) meus pais nunca disseram nada disso; eles deixaram a tarefa de articular essas inanidades a amigos, parentes ou pedagogos desavisados; 2) graças a esse silêncio dos meus pais, pude decretar o seguinte: os adultos que afirmavam que a infância era o único tempo feliz da vida deviam ser, fundamentalmente, hipócritas; 3) com isso, evitei uma depressão profunda pois, uma vez que a infância e a adolescência, que eu estava vivendo, não eram paraíso algum (nunca são), qual esperança me sobraria se eu acreditasse que a vida adulta seria fundamentalmente uma decepção?

    Cheguei à conclusão de que, ao longo da vida, nossa ideia da felicidade muda: 1) quando a gente é criança ou adolescente, a felicidade é algo que será possível no futuro, na idade adulta; 2) quando a gente é adulto, a felicidade é algo que já se foi: a lembrança idealizada (e falsa) da infância e da adolescência como épocas felizes.

    Em suma, a felicidade é uma quimera que seria sempre própria de uma outra época da vida -que ainda não chegou ou que já passou.

   No filme de Arnaldo Jabor, "A Suprema Felicidade", o avô (extraordinário Marco Nanini) confia ao neto que a felicidade não existe e acrescenta que, na vida, é possível, no máximo, ser alegre.


    Claro, concordo com o avô do filme. E há mais: para aproveitar a vida, o que importa é a alegria, muito mais do que a felicidade. Então, o que é a alegria?

    Ser alegre não significa necessariamente ser brincalhão. Nada contra ter a piada pronta, mas a alegria é muito mais do que isso: ser alegre é gostar de viver mesmo quando as coisas não dão certo ou quando a vida nos castiga. É possível, aliás, ser alegre até na tristeza ou no luto, da mesma forma que, uma vez que somos obrigados a sentar à mesa diante de pratos que não são nossos preferidos ou dos quais não gostamos, é melhor saboreá-los do que tragá-los com pressa e sem mastigar. Melhor, digo, porque a riqueza da experiência compensa seu caráter eventualmente penoso.

   Essa alegria, de longe preferível à felicidade, é reconhecível sobretudo no exercício da memória, quando olhamos para trás e narramos nossa vida para quem quiser ouvir ou para nós mesmos. Alguém perguntará: é reconhecível como?

    Pois é, para quem consegue ser alegre, a lembrança do passado sempre tem um encanto que justifica a vida. Tento explicar melhor.

   Para que nossa vida se justifique, não é preciso narrar o passado de forma que ele dê sentido à existência. Não é preciso que cada evento da vida prepare o seguinte. Tampouco é preciso que o desfecho final seja sublime (descobri a penicilina, solucionei o problema do Oriente Médio, mereci o Paraíso).

   Para justificar a vida, bastam as experiências (agradáveis ou não) que a vida nos proporciona, à condição que a gente se autorize a vivê-las plenamente.

    Ora, nossa alegria encanta o mundo, justamente, porque ela enxerga e nos permite sentir o que há de extraordinário na vida de cada dia, como ela é.
 
     É óbvio que não consegui explicar o que são a alegria e o encanto da vida. Talvez eles possam apenas ser mostrados: procure-os em "Amarcord"(1973), de Federico Fellini, em "Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas"(2003), de Tim Burton ou no filme de Jabor. "A Suprema Felicidade" me comoveu por isto, por ter a sabedoria terna de quem vive com alegria e, portanto, no encantamento.

  Segundo Max Weber (1864-1920), a racionalidade do mundo industrial teria acabado com o encanto do mundo. Ultimamente, bruxos, vampiros, lobisomens, deuses e espíritos andam por aí (e pelas telas de cinema); aparentemente, eles nos ajudam a reencantar o mundo.


   Ótimo, mas, para reencantar o mundo, não precisamos de intervenções sobrenaturais. Para reencantar o mundo, é suficiente descobrir que o verdadeiro encanto da vida é a vida mesmo.
  

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

"Vai tomar consciência ou mais um drink?"

   Em setembro do ano passado, Rafael Baltresca, que já não tinha o pai, perdeu a mãe e a irmã, atropeladas em frente ao shopping Villa Lobos, em São Paulo.
   Míriam Baltresca, de 58 anos, e a filha Bruna, de 28 anos, saíam do shopping quando foram atingidas - na calçada, por um carro em alta velocidade. O motorista, Marcos Alexandre Martins, de 33 anos, foi preso em flagrante por homicídio doloso e hoje, cumpre em liberdade.
   Infelizmente, é só mais um caso diante dos muitos que a gente vê diariamente em telejornais, relatando mortes por conta da irresponsabilidade dos motoristas.
Segundo o Departamento Nacional de Trânsito e Ministério da Saúde, mais de 40 mil pessoas morrem por ano em acidentes de trânsito, sendo que cerca de 40% estão relacionados ao uso de álcool.
   Acredito que quando se bebe, o motorista automaticamente deve SIM assumir o risco de causar acidentes e matar. É muita impunidade diante de tanta tragédia. 
   Li comentários horríveis que nem merecem ser postados, mas o fato é: as pessoas acham graça, não tem o mínimo de educação, respeito e civilidade. 

Assista o vídeo da campanha NÃO FOI ACIDENTE.org


Você também pode contribuir com a causa - entre no site e assine: iniciativa popular sobre crimes de trânsito que envolvam a embriaguez ao volante.