terça-feira, 13 de março de 2012

Leitura Simples

Aprenda a lidar com a sensação de vazio
Especialistas explicam como superar a carência sem exagerar nas expectativas
Conteúdo do site VIDA SIMPLES

Vazio primordial alimenta procura do homem por sua própria verdade
Foto: Vida Simples

   A quase indefinível sensação de necessidade e carência foi descrita pela filosofia, pela psicologia, pela literatura. "Na mitologia grega, a mãe de Eros, o desejo, é a Penúria, a falta. Sabiamente, os gregos colocavam a carência como a origem de tudo que desejamos na vida. Para eles, esse gosto de escassez, de insuficiência, de insatisfação é a grande faísca que dá partida às nossas ações, planos e sonhos", diz a professora de mitologia Helenice Hartmann.

   Saber disso gera alívio. Muita gente não consegue identificar esse aperto no peito que nos angustia, e mal percebe que ele está ali presente, ou que sequer existe. Ao dar um nome para esse sentimento difuso, mas insistente, a vida pode se reorganizar de uma maneira diferente.
   Podemos reconhecer o que nos incomoda e, mais que isso, observar como essa falta primordial é capaz de conduzir, nem sempre de uma maneira mais sábia, a maioria dos nossos movimentos existenciais.
   Com base nessa nova consciência, é possível, então, uma regulação mais equilibrada de nossos desejos: já sabemos o que os origina, e assim podemos administrá-los melhor. Se admitimos que essa falta jamais será preenchida com as ilusões do universo material, ou mesmo emocional, vamos abrandar a fome com que nos atiramos às pessoas e às coisas.
   Dessa maneira, é possível nos contentarmos mais com a vida, e até nos alegrarmos e nos sentirmos gratos com o que já temos, pois atendemos a essa necessidade de outra forma. "Não se trata de suprimir o desejo, mas de transformá-lo: de desejar um pouco menos aquilo que nos falta e um pouco mais aquilo que temos; de desejar um pouco menos o que não depende de nós e um pouco mais aquilo que de fato depende", sugere o filósofo francês contemporâneo André Comte-Sponville. Sem dúvida, isso já é um ótimo começo.
   O psicanalista francês Jacques Lacan se aprofundou no tema no século 20. Ele afirmava que esse vazio primordial alimenta a procura do homem por sua própria verdade. Portanto, para Lacan, a falta não é, em si, negativa ou indesejável, mas o poderoso estopim de uma busca interna que pode se tornar reveladora.
  A lógica é simples: se espero conseguir algo, é porque me falta alguma coisa, certo? Portanto, a esperança primordial, aquela que alicerça todas as outras esperanças que habitam nosso coração, é nossa vontade de conseguir preencher esse vazio que nos consome. Por isso mesmo, os estoicos desconfiavam muito dela. "Esperar um pouco menos, amar um pouco mais", propunha essa antiga corrente de filosofia da Grécia. Em outras palavras, mais ação e menos expectativas.
   Porque ao colocar o desejo de satisfação no futuro, nos deslocamos do presente e aumentamos nossa angústia. Para evitar isso, os estoicos adotavam uma medida prática: satisfaziam-se com o que tinham. Para eles, desejar mais do que o momento proporciona era garantia de infelicidade.
   E há outro bom motivo para não se depender da esperança da satisfação de um desejo: assim que o realizamos, outro buraco se forma, outra falta, que exigirá o seu preenchimento. "Assim que um objetivo é alcançado, temos quase sempre a experiência dolorosa da indiferença, ou mesmo da decepção", continua o educador e pensador francês Luc Ferry.
   Viver entre a esperança de ter, ou ser, e o medo de não ter, ou de não ser, pode se tornar outra forma de tortura. "O medo é a face complementar da esperança. Temos esperança porque, no fundo, temos medo de não ter nosso desejo satisfeito. Esperamos que ele se realize, mas temos medo de que ele não se realize", diz indo direto ao ponto a monja budista americana Pema Chödron.
   Em resumo, para não sofrer tanto com as expectativas, é necessário aceitar a vida como ela é, e reconciliar-e consigo mesmo. "É possível fazer planos, é claro, mas não depender disso para ser feliz. A felicidade está dentro de nós, e não fora, no outro, no futuro ou em outras circunstâncias", diz Pema. Ao constatar isso, já fica mais fácil nos livrarmos de outra forma de sofrimento ocasionado pela falta: a inveja.

5 comentários:

Teca disse...

Cara, você captou a essência minha divina guru. E é bem isso mesmo, se formos pessimistas,jogarmos sempre a felicidade pro futuro, em alguém ou algo, estaremos sempre fazendo isso, nunca satisteitos com a nossa situação. Assim, brindando com tubaína ou moet chandon, sejamos felizes vendo ouro no que nos cerca! \o/ Tamu junto, 18kilates

Patrícia Cristina disse...

Muito bom!
Eu sofro de expectativas rs. Mas estou aprendendo a lidar com isso!
Beijocas

Mariana disse...

Adorei a postagem!
Somos o que pensamos, e por consequência colhemos o que semeamos.
Essa sensação de vazio me persegue desde.. desde que m conheço por gente..rs
Tenho total consciência do que me gera isso, mais como fui muito boa na arte de sustentar hábitos e crenças não tem sido tão fácil me desvencilhar dele.

Esse lance de colocar as rédeas da nossa vida nas mãos do outro, ou até mesmo em função de alguma coisa é furada. Além de se vitimizar por todo e qualquer erro de percurso, rola uma frustração monstro.

Mais ta aí, a vida ensina. Se você não muda, ela muda você.
Um aprendizado constante.

Mega beijo e boa semana ;*

Cris Medeiros disse...

Eu sofro de uma incrível e brutal sensação de vazio. Às vezes chega a doer fisicamente. E nunca soube dizer exatamente de onde ela vem. Mas certamente vem de algo muito profundo, uma falta de algo nas minhas bases que eu ainda não descobri.

Beijocas

Bia disse...

Tudo muito bom e verdadeiro... e muito difícil de ser colocado em prática. Estou lendo O poder do Agora para me ajudar um pouco a viver mais esse maravilhoso agora... bjs